vazamento de petróleo descolonizando a ciência

2012/09/03

Guerras do Século XX

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As guerras do século XX e princípios do XXI têm se alimentado do petróleo e, na maior parte dos casos, o petróleo tem sido a causa do conflito.

Século xx

ÁFRICA

Em Angola—um dos principais produtores de petróleo da África — o controle dos recursos hicrocarboníferos sempre esteve em mãos do Movimento Popular de Liberação de Angola (mpla), hoje no poder. A perpetuação da guerra civil neste país tem estado muito relacionada com a necessidade de controlar o petróleo. Para ele, os Estados Unidos financiam as guerrilhas das unidades que controlam as minas de diamantes e são inimigos do mpla. Os principais objetivos militares das unidades têm sido as áreas produtoras de petróleo (que significam 90% dos recursos do governo). No momento, todas as empresas petroleiras importantes no mundo têm inverstimentos em Angola. A guerra de liberação da Argélia, uma das mais sangrentas da África e que durou quase uma década, tinha como causa subjacente as ricas jazidas de petróleo argelinas que até 1968, quando foram nacionalizadas, eram exploradas por empresas petroleiras francesas.

 

A atual guerra civil no Sudão está tambén manchada de petróleo. Em setembro de 1999, Sudão se converteu no novo exportador de petróleo na África. Outros conflitos na África relacionados com o petróleo incluem a guerra recente no “Cuerno” da África e a disputa sobre as ilhas Bioko na Guiné Equatorial.

 

AMÉRICA LATINA

Sabe-se de pelo menos duas guerras que, na década dos anos 40, estiveram relacionadas com o petróleo: a guerra do Chaco, aonde Paraguai perdeu uma porção do país com importantes jazidas petroleiras e a guerra Equador-Peru. Nos anos 80, a guerra civil que arrasou a Guatemala centrou -se no Ixcan, zona aonde neste momento exploram-se reservas petroleiras, depois de obrigarem a população indígena a deslocar-se. O caso mais recente é o Plano Colômbia, que tem, entre outros objetivos, controlar a produção petroleira nesse país. O Plano Colômbia tem focado na região do Putumayo aonde, mesmo que a produção petroleira não seja muito importante, as novas licitações nos insinuam que as reservas poderiam ser maiores que as conhecidas.

 

O problema na região é a contínua sabotagem que sofre a infraestructura petroleira por parte dos exércitos irregulares existentes neste país, o que significa, para a indústria petroleira, importantes perdas econômicas. Com a chamada Iniciativa Andina, Estados Unidos estaria controlando a produção petroleira dos cinco países andino- amazónicos, todos produtores de petróleo e gás. O conflito de Chiapas não deixa de ter uma ligação direta com a voracidade dos Estados Unidos para que se perfurem os poços petroleiros de Chiapas, que parecem ser de grande riqueza.

 

ÁSIA

A situação não é distinta. Enquanto os Estados Unidos liderava uma guerra contra o povo do Vietnã, a empresa Mobil fazia prospecção offshore no que eles chamavam de Vietnã do Sul. Na década dos anos 90, Mobil ganhou uma licença de exploração dos mesmos campos que esteve três décadas antes, Blue Dragon (a 280 km do Delta do Mekong), mas o abandonou por não encontrar reservas comerciais. A ocupação colonialista da Indonésia no Timor Oriental, apoiada pelos Estados Unidos e Austrália, se deve em parte à presença de importantes reservas hidro-carborníferas no Mar do Timor, assim como a disputa sobre as Ilhas Spratley, pequenas ilhas com reservas petroleiras sobre as quais reclamam direitos China, Vietnã, Filipinas, Indonésia, Malásia e Brunei.

 

EUROPA DO LESTE

Em Grozny, Chechenia, também ocorreu uma outra guerra. Para os Estados Unidos e a Europa existe uma grande importância em romper a hegemonia russa no transporte de óleo cru, por isso o controle sobre a Chechenia é vital. Mesmo que as reservas não sejam tão importantes, esta zona é crucial para o caminho do oleoduto que traz o óleo cru do Mar Cáspio. O caminho do oleoduto pelo território russo permite a este país manter o controle sobre o transporte de energia, sobre seus preços, assim como utilizá-lo como um mecanismo de controle político. Na ex-Iugoslávia igualmente os conflitos relacionam-se com o controle do transporte de óleo cru desde as jazidas no Oriente Médio e o Cáspio até o Mediterrâneo e o Mar Negro. Azerbaiján, Kazakistán, Turkmenistán e Uzbekistán juntos têm 115 mil milhões de barris de reservas provadas de óleo cru e 11 trilhões de m3 de gás. Até agora, a Rússia tem mantido a hegemonia no transporte de óleo pesado na região, a mesma que quer ser arrebatada pelos Estados Unidos. A importância da zona reside em que os Estados Unidos considera que o óleo pesado do Cáspio pode balançar a liderança que têm os países da opep na fixação dos preços do óleo. Este papel teve antes o Mar do Norte, mas suas reservas são muito inferiores às do Cáspio, e Estados Unidos considera que é mais fácil controlar a produção no Cáspio, pela debilidade institucional desses países.

 

ORIENTE MÉDIO

Há mais de 40 000 jazidas petrolíferas conhecidas no mundo, mas somente 40 supergigantes — a dizer, com mais de 5 000 milhões de barris de petróleo— contendo mais da metade das reservas de petróleo do mundo. Destas 40 jazidas supergigantes, 26 localizam-se no Golfo Pérsico. Nisso reside a importância da região para os Estados Unidos, principal consumidor de petróleo.

 

A guerra do Golfo em 1991 serviu aos países ocidentais, especialmente aos Estados Unidos, para desestabilizar a opep e exercer controle sobre os preços do petróleo, e para criar uma nova co-relação de forças a favor dos Estados Unidos na zona, aonde se encontram as reservas petroleiras mais importantes do mundo. Esta guerra por petróleo produziu 1,5 milhões de mortos diretos ao que se somam 5 000 crianças iraquianas a cada mês como produto do embargo imposto ao Iraque. O conflito na Ásia Central (Afeganistão) está relacionado com o controle do transporte dos abundantes recursos petroleiros da região, tanto do Cáspio como do Golfo Pérsico.

 

O cruzamento de oleodutos pelo Afeganistão, para a retirada dos hidrocarbonetos da Ásia Central aos mercados ocidentais, significa uma alternativa mais barata comparada a outras rotas, mas o problema tem sido a presença do Talibã que, mesmo tendo subido ao poder apoiado pela CIA quando liderou uma guerra contra o governo pró-soviético, hoje são inimigos. Acredita-se que o Afeganistão pode ter reservas importantes. Em sua época a URSS calculou que esse país poderia ter reservas de gás natural ao redor de 0.14 “quintillones” de metros cúbicos. A guerra no Iraque, sustentada sobre o argumento de umas armas de destruição massiva que nunca foram encontradas, teve como objetivo o controle e produção dos 112 milhões de reservas petroleiras desse país. Ainda não foram contabilizadas as mortes e os custos da guerra.

 

Elizabeth Bravo, Oilwatch

 

Que fazem as indústrias petroleiras no terreno?

 

1.Financiar massacres, conflitos e guerras inter-étnicas, guerras de baixa intensidade procedentes da exploração petroleira;

2. Expulsar populações de áreas petroleiras (desde expulsões familiares até massivas), com programas de colonização, “re-localização” e “trans-migração” observados pela “banca multaleral”;

3. Afetar a vida das mulheres: com maior carga de trabalho, abusos sexuais, violência;

4. Afetar a vida das crianças: utilizando o trabalho das crianças na descontaminação;

5. Destruir a diversidade cultural;

6. Criar falta de segurança para aqueles que vivem próximos das instalações petroleiras;

7. Destruir a base da sobrevivência e da vida das comunidades, gerando inflação;

8. Expropiar a terra dos campesinos e indígenas;

9. Provocar o empobrecimento, inflação;

10. Criar condições para que diferentes doenças proliferem, de transmissão sexual à tropicais;

11. Gerar racismo ambiental;

12. Provocar extinçaõ de espécies naturais;

13. Alterar e destruir a vida dos rios, dos bosques;

14. Acumular dejetos, alguns dos quais tóxicos;

15. Provocar o aumento de doenças como o câncer e a leucemia em seus lugares de operação;

16. Apropiar-se livremente de outros recursos das concessões: água, madeira, “ripio” e outros recursos;

17. Induzir e provocar o incremento da prostituição e delinquência;

18. Provocar conflitos internos entre as comunidades.

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