Os danos ambientais causados por um modo de vida baseado na cultura petroleira têm muitos aspectos: desde a fase de prospecção e mapeamento dos recursos fósseis, o dia-a-dia de nosso petrouso até a última etapa, a dos dejetos. Na primeira fase os danos são sentidos nas localidades onde há a extração, em sua maior parte concentrada em terras indígenas, ou subsolos profundos ainda não explorados, o que acarreta a migração e genocídio dessas comunidades e milhares de espécies animais e vegetais que habitam essas áreas. Os produtos plásticos que usamos em nosso dia-a-dia como o polyester de nossas roupas, o plástico de brinquedos, embalagens e produtos da era “eletrodoméstica” incluindo ai a energia necessária para movê-los, assim como nosso transporte e lazer (cinemas, computadores, aviões e ônibus) muitos dos quais impregnam-se e acabam nos envenenando como os agrotóxicos ou o pvc das garrafas de água. Por fim os dejetos industriais, hospitalares e da própria produção e queima dos combustíveis fósseis que vão parar em nossos ares, rios e mares. Além dessa necessária contaminação existem ainda os gravíssimos “acidentes” industriais que apesar de não serem tão imprevisíveis assim acabam por contaminar as vezes de forma irremediável o nosso meio ambiente.
Nesta página vamos focar na face visível dos danos, os grandes “acidentes” efetuados por petroleiras em território nacional que hoje produz aproximadamente 2 milhões de barris/dia, tendo como meta subir para 6 milhões em 2020. Aqui podemos encontrar uma lista dos maiores vazamentos ocorridos no mundo assim como derramamentos ocorrendo neste momento. Focamos nossa pesquisa no Brasil e não temos a pretensão de listar o total de vazamentos ocorridos e sim fornecer uma pequena mostra dos acidentes ocorridos no passado recente para podermos ter ferramentas informacionais para avaliar o perigo que corremos ao tentar explorar regiões ainda mais difícies e profundas como o pré-sal.
Destacamos a luta dos pescadores do estado do Rio de Janeiro, região para qual estão sendo projetados megaempreendimentos petrolíferos (aproximadamente 13, sete dos quais na Baía de Sepetiba, em Itaguaí). Em Itaboraí, destacamos o Complexo Petroquímico chamado de Comperj, que concentrará indústrias processadoras de produtos petroquímicos; já perto do município de Magé, nos fundos da Baía de Guanabara, a Petrobras avança na construção de estruturas para ampliação de sua produção e escoamento de gás natural, incluindo a construção de gasodutos, parte dos projetos Gás Natural Liquefeito (GNL) e Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). Além de megaempreendimentos siderúrgicos (Complexo do Açu, TKCSA, o Superporto Sudeste, da MMX,que inclui a construção de um túnel que atravessa aproximadamente dois quilômetros de uma montanha e já está sendo perfurado), portuários (Porto Maravilha, Porto do Açu da LLX) e até bélicos (encontra-se em processo de implantação um estaleiro da Marinha do Brasil para a construção de submarinos, incluindo um nuclear). Em busca de melhores condições, os pescadores da região começam a se deslocar para outras áreas. Viraram refugiados ambientais. Em todo o Estado do Rio, 70 mil pescadores estão ameaçados pela poluição. O petróleo cria zonas de exclusão. Na Baía de Guanabara só há 2 áreas liberadas para a pesca artesanal. Hoje se pescam 10 toneladas menos que há 15 anos no estado. Estudo sobre a pesca x megaempreendimentos na Baía de Sepetiba.
baía de sepetiba (rj) praia de tramandaí (rs)
Alguns “acidentes” no Brasil:
Petrobrás – Bacia de Campos (RJ)
Um vazamento de petróleo em alto mar no campo da barracuda na Bacia de Campos, em uma plataforma a cerca de 95 quilômetros da costa fluminense, é o segundo acidente registrado em 2012, em fevereiro deste ano, poucas horas depois da posse de Maria das Graças Foster, na presidência da Petrobras. Um derramamento de 4.770 litros (o equivalente a 30 barris) de petróleo no mar. Foram enviadas para o local seis embarcações, sendo quatro de recolhimento de óleo e duas de apoio. O recolhimento não foi efetuado, foram usados dispersantes mecânicos e o óleo movido para outras regiões. Segundo a empresa, apesar de ter reduzido o volume produzido de 90 mil barris diários para 75 mil barris por dia não foi feita nenhuma interrupção da produção. Os dois vazamentos ocorridos em 2012 somam 190 barris, ou 30 mil litros de petróleo no mar. Há um ano, a Petrobras anunciou que havia feito duas novas descobertas de petróleo no campo de Barracuda, em um único poço, uma delas na camada do pré-sal e outra no pós-sal.
Petrobrás – Bacia de Santos (SP)
O primeiro acidente da Petrobras em 2012 ocorreu no pré-sal da bacia de Santos (SP), em janeiro de 2012, durante um teste de longa duração da área de Carioca Nordeste, quando foram despejados 160 barris de petróleo no mar, ou 25,5 mil litros, assim como o segundo acidente, também por problemas na tubulação. Em 2010, último número disponível, a estatal registrou 57 vazamentos, totalizando 668 mil litros.
Chevron e Transocean – Bacia de Campos (RJ)
Dois vazamentos ocorridos no mesmo local pela mesma empresa: o primeiro de 2,5 mil a 3 mil barris de óleo ocorrido no início de novembro de 2011 no Campo de Frade, na Bacia de Campos, no norte do Rio, e outro em março de 2012 quando 3,7 mil barris de óleo foram derramados em uma distância de cerca de 120 km da costa do Estado do Rio de Janeiro – mesmo tendo sida proibida de perfurar depois do primeiro vazamento. A capitania dos Portos identificou mancha de óleo de cerca de 1 km. Para o Ibama, a nova mancha de óleo pode ser decorrente do vazamento de 2011. 17 pessoas, todos estrangeiros, foram acusadas de crime ambiental e falsidade ideológica, pois, de acordo com a PF, teriam sonegado informações em depoimentos incluindo o presidente da empresa, George Buck. São pessoas apontadas na investigação ligadas à direção de empresas exploradoras da região onde ocorreu o vazamento de 2011. O resultado das investigações que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) sobre o primeiro vazamento da Chevron, no campo de Frade, indica que a petroleira norte-americana descumpriu a regulamentação e o seu próprio manual de procedimentos. “A Chevron analisou mal dados geológicos e poderia ter evitado o vazamento no poço no campo de Frade se tivesse feito as avaliações corretamente. O desastre teria sido causado por ganância e conduta leviana dos executivos e funcionários das duas empresas”, que, segundo os investigadores, recorrem a perfurações temerárias, com riscos de acidentes. No documento, ele reitera que o vazamento foi provocado por excesso de pressão no poço e sustenta que a Chevron, até então operadora do Campo de Frade, sabia que a zona perfurada era de alta pressão. Se as empresas forem condenadas, podem ser proibidas de manter atividades no País. Já as pessoas indiciadas pelos dois crimes podem ser condenadas a até 14 anos de prisão. A multa máxima que pode ser aplicada à Chevron pelo vazamento será de R$ 50 milhões. Segundo Magda Chambriard, o valor da multa será calculado em 30 dias. A multa máxima é de R$ 2 milhões por autuação. A agência fez 25 autuação à empresa estadunidense. De acordo com a ANP, o volume derramado em Frade correspondeu a 96 por cento do total de vazamentos de petróleo registrados no Brasil em 2011. Leia a ação civil pública contra as empresas
Petrobrás – Duque de Caxias (RJ)
Em 2012 completam doze anos de um dos maiores desastres ambientais do Brasil. No dia 18 de janeiro de 2000, 1,3 milhões de litros de óleo vazaram de um duto da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), de responsabilidade da Petrobras. O desastre deixou a Baía de Guanabara, no município do Rio de Janeiro, com uma mancha de óleo que se estendeu por uma faixa superior a 50 km². Em 2010, 10 anos da tragédia, 200 pecadores se reuniram em frente a petrobras para relembrar do vazamento. Áudio de 2010.
Petrobrás – Explosões na plataforma P-36 na Bacia de Campos (RJ)
Em março de 2001 ocorreram duas explosões ao lado ou em um tanque de drenagem da empresa Petrobrás, há 130 km da costa brasileira numa das maiores plataformas de exploração na área. A primeira explosão foi causada por uma forte pressão, a segunda pela ignição de vapor hidrocarburo vazando. Haviam 175 pessoas no tanque, 11 morreram. A fissura foi crescendo até que em cinco dias depois de má sucedidas tentativas para freiar o vazamento, o tanque inteiro afundou a 1200 metros de profundidade, com uma estimativa de 1500 toneladas de óleo cru a bordo.
Petrobrás – Tramandaí (RS)
Um vazamento em uma monoboia do Terminal da Petrobras deOsório (RS), há cinco quilômetros da costa, está afetando fauna e flora da região, além milhares de pessoas que frequentam as praias de Tramandaí, uma das mais populosas do RS. O vazamento foi detectado em janeiro de 2012. O Comando Ambiental orientou os salva-vidas a retirar os banhistas da água e da areia. Em seguinda, um avião da Petrobras começou a despejar uma substância química que endurece o óleo, a fim de facilitar a retenção. A estimativa é de que a mancha possa ter até quatro quilômetros de extensão. A Petrobras explicou em nota que o acidente ocorreu durante o descarregamento de um navio.
Petrobrás – Bacia de Campos (RJ)
O último vazamento regiustrado pela própria empresa em seu site foi identificado no dia 7 de junho de 2010: cerca de 1.500 litros de óleo próximo à plataforma de processamento P-47, no campo de Marlim, na Bacia de Campos, a aproximadamente 160 km da costa de Macaé. A P-47 não é uma plataforma de produção de petróleo. Sua função é receber, tratar e armazenar o óleo produzido por algumas plataformas da Bacia de Campos. O vazamento foi proveniente de um mangote que iria permitir a transferência de óleo da Plataforma P-47 para o navio aliviador Cap Jean. A operação de transferência ainda não havia iniciado quando o óleo vazou. A ocorrência não afetou a produção de petróleo naquela bacia.
Modec Serviços de Petróleo do Brasil – Ilha Grande (RJ)
Vazamento de 10 mil litros de óleo do navio-plataforma da Modec, na Baía da Ilha Grande (RJ). A empresa Modec Serviços de Petróleo do Brasil foi multada em R$ 16,66 milhões pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), por ter atingido “com substâncias oleosas” uma área em torno da Baía da Ilha Grande, paraíso turístico de Angra dos Reis, litoral sul fluminense.
Ingá Mercantil, “a bomba de Itaguaí”- Baía de Sepetiba (RJ)
Foi constatado em 2008 por um grupo de pescadores e ecologistas um grande vazamento de efluentes líquidos contaminados por metais químicos em um canal construído ao lado do dique da antiga Companhia Ingá Mercantil, localizada na Ilha da Madeira – Itaguaí ao lado do Porto de Sepetiba (RJ). A Ingá iniciou suas operações nos anos 50 – época em que não havia nenhuma preocupação ambiental – e faliu em 98 deixando uma montanha a céu aberto de 3 milhões de toneladas de metais pesados (cádmio, zinco, arsênio, etc) que desde então vêm lentamente contaminando a região. Dentre os piores vazamentos que ocorreu na Baía de Sepetiba está o rompimento do dique em 1996, construído por ordem da FEEMA, para que a água da chuva não despejasse os rejeitos diretamente na Baía de Sepetiba (FEEMA, 1998). O evento provocou uma contaminação tão forte, que segundo a notificação enviada à Justiça Federal no Rio de Janeiro, a água atingiu a Baía de Sepetiba após o dique se romper trazendo lama fortemente tóxica, ficando conhecido na época como “maré vermelha”, prejudicando diversos trabalhadores que
sobrevivem dos recursos desse ecossistema, como os pescadores. Recentemente, dragagens da CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico, conglomerado industrial formado pela Cia. Vale do Rio Doce e a multinacional alemã Thyssen Krupp Stels, vêm espalhando grande volume destes contaminantes químicos oriundos da Ingá – e de outras empresas poluidoras instaladas na região – que por todo esse tempo vêm vazando para o fundo da Baía. A cada nova dragagem e com as obras de instalação da CSA, esses metais pesados, assentados no assoalho oceânico, são revolvidos. Se consumidos regularmente, pescados dessa região podem causar problemas digestivos e até câncer.
Vale do Rio Doce- São Luis (MA)
Apreensão gerada por um supergraneleiro da Vale que tem duas rachaduras em um tanque. Não foi detectado vazamento, mas o gigantesco cargueiro tem a bordo cerca de 7,5 mil toneladas de óleo diesel e bruto.
Vale do Rio Doce – Baía de Sepetiba (RJ)
Vazamento de óleo ocorrido em dezembro de 2011 em uma estação de tratamento da empresa na Ilha Guaíba, na entrada da baía de Sepetiba, em uma região conhecida como Costa Verde, ao sul do Estado. Ocorrido em um tanque de separação de água e óleo, chegou ao mar pelas vias internas e pelo sistema de drenagem do local.