vazamento de petróleo descolonizando a ciência

2014/06/06

O mundo frente a Chevron

Filed under: General — seringueira @ 18:25

El 21 de mayo cientos de organizaciones en todo el mundo se sumaron al día internacional AntiChevron. Ciudadanos de Argentina, Estados Unidos, Bulgaria, Brasil, Bolivia, Reino Unido, España, Francia, Alemania, Austria, Suiza, Bélgica, Francia, Suecia, Australia,Filipinas y Nigeria, se sumaron a esta gran cruzada para desenmascarar las actuaciones de Chevron en desmedro del ambiente y de los derechos de los pueblos. En más de 20 países se ha iniciado además una campaña de boicot a los productos de esta corporación.

Como parte de esta campaña fue presentada la Declaración de los pueblos víctimas de las prácticas de Chevron en el mundo, apoyada por más de 80 organizaciones en el mundo.
(http://www.antichevron.com/_literature_119975/Declaraci%C3%B3n_de_las_V%C3%ADctimas_de_Chevron)

Debido a sus operaciones en Ecuador, Chevron (antes Texaco) ha sido obligada a pagar 9500 millones de dólares por un juez en Ecuador. Pero el daño causado no ha sido solo en Ecuador, también comunidades Mapuche en Argentina, en el Delta del Níger en Nigeri, Rumania o en Estados Unidos han levantado las voces para reclamar derechos frente a los atropellos sufrido por parte de esta empresa.

En su declaración conjunta señalan:

• No toleraremos la irresponsabilidad e indiferencia de la compañía frente a los
daños que ha ocasionado en nuestros territorios;
• No permitiremos que pretenda eximirse de su responsabilidad inculpando a los
gobiernos locales o a terceros relacionados;
• Chevron debe pagar por la contaminación y devastación de la naturaleza y los
ecosistemas terrestres y marinos;
• Exigimos el respeto a la autodeterminación de los pueblos que rechazan la
utilización del fracking y otras técnicas contaminantes en sus territorios;
• Exigimos respeto por los pueblos y comunidades nativas de los territorios donde
opera;

• Exigimos respeto a los niños, jóvenes, adultos, ancianos; hombres y mujeres por
igual;

• Exigimos el respeto a los trabajadores y condiciones óptimas y dignas para el
desempeño de sus funciones;
• Exigimos el cumplimiento de las obligaciones impuestas por los sistemas judiciales
de los países en los que opera y en los que mantiene conflictos;
• Exigimos que Chevron Corporation, por sí misma o a través de sus subsidiarias,
responda con su patrimonio por los daños que ha ocasionado en el mundo;
• No descansaremos en nuestras luchas hasta que Chevron Corporation modifique sus
prácticas, asuma sus responsabilidades y cumpla con sus políticas de responsabilidad corporativa.
• No consumiremos ni negociaremos con productos que lleven la marca de Chevron.

Chevron ha dicho que no va a pagar a las comunidades en Ecuador. Por el contrario, ha entablado
juicios en contra de los demandantes y sus abogados para tratar de evitar que la justicia le obligue
a sufragar lo que a sentencia estipuló.

Oilwatch desde sus inicios ha apoyado la causa de las comunidades que han sido afectadas por la industria petrolera, nos hemos sumado a esta campaña una vez más para que la impunidad no se instale en nuestros países. Sin embargo, también apoyamos otros movimientos que resisten la entrada de operaciones petroleras en sus territorios, como son por ejemplo los Uwa o los pueblos de la Amazonía ecuatoriana. No descansaremos en la denuncia y en la solidaridad y apoyo a estos y a otros pueblos en América Latina.

2014/01/10

A era dos extremos climáticos começou

Filed under: General — seringueira @ 13:59

Mulheres caminham em região desertificada do Kenya

Em 2011, acentuaram-se grandes secas, cheias, ondas de calor e desastres ambientais. É preciso agir já, contra reação em cadeia

Por Janet Larsen e Sara Rasmussen, do Earth Policy Institute | Tradução: Antonio Martins

A temperatura média global em 2011 foi de 14,52ºC. Segundo cientistas da Nasa, foi o nono ano mais quente desde que os dados passaram a ser coletados, há 132 anos – a despeito da influência resfriadora do fenômeno atmosférico e oceânico La Niña, e de irradiação solar relativamente baixa. Desde os anos 1970, cada nova década foi mais quente que a anterior – e nove dos dez anos mais quentes de todos os tempos estão no século 21.

A cada ano, a temperatura média do planeta é determinada por um conjunto de fatores, que incluem a atividade solar e o sentido dos fenômenos El Niño / La Niña. Mas os gases que capturam o calor e se acumularam na atmosfera, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis, tornaram-se uma força influente, pressionando o clima da Terra para fora dos parâmetros normais. O planeta está agora quase 0,8ºC mais quente do que foi há um século. A média esconde, além disso, sinais espantosos de novos recordes de temperatura e precipitação de chuvas, em muitas partes do mundo. Extremos climáticos que seriam antes considerados anomalias ameaçam tornar-se normas, à medida em que a Terra se aquece.
Temperaturas globais médias

Temperaturas globais médias (1880-2011)

Em todo o mundo, 2011 foi o segundo ano de maiores precipitações em terra firme. (O recorde atual é 2010, que também igualou-se a 2005, como o mais chuvoso em toda a superfície do planeta. Esperam-se degelos mais intensos, num planeta mais quente; cada aumento de 0,1ºC aumenta o limite de umidade que a atmosfera pode suportar em cerca de 7%. Temperaturas mais altas podem, portanto, desencadear tempestades mais violentas.

O Brasil inaugurou 2011 com um dos desastres naturais mais letais de sua história. Em janeiro, o equivalente a um mês de chuvas caiu num único dia no estado do Rio de Janeiro, provocando inundações e deslizamentos que mataram ao menos 900 pessoas. No mesmo mês, inundações na região oriental da Austrália atingiram uma área equivalente às da França e Alemanha somadas. Foi o terceiro ano mais chuvoso no país, desde que os registros começaram, em 1900.

O desastre climático mais caro do ano foram as inundações na Tailândia, no segundo semestre, que terminaram submergindo um terço das províncias do país. Com prejuízos de 45 bilhões de dólares – ou 14% do PIB da Tailândia, foram também a catástrofe natural mais custosa que o país já viveu.

Em outubro, mais de 100 pessoas morreram em duas tempestades – uma partindo do Pacífico, outra do Caribe – que despejaram chuvas pesadas na América Central. No oeste de El Salvador, quase 1500 mm. De chuva caíram em dez dias. E em dezembro, a tempestade tropica Washi atingiu as Filipinas, provocando inundações instantâneas que mataram mais de 1,2 mil pessoas.

Em 2011, a temporada de furacões no Atlântico teve 19 tempestades nomeadas. O furacão Irene produziu enormes inundações no nordeste dos Estados Unidos em agosto, com prejuízos totais de 7,3 bilhões de dólares. O ano foi o mais chuvoso de todos os tempos em sete estados norte-americanos – e foi, ao mesmo tempo, o mais seco para vários outros. Embora os extremos pareçam se compensar, resultando numa média próximas às comuns, na verdade deu-se um recorde: 58% dos estados viveram um ano ou extremamente seco, ou extremamente úmido.

Num planeta mais quente, espera-se que algumas partes do globo sejam ultra-atingidas por chuvas, enquanto outras sofrem secas. Uma estiagem severa no Chifre da África, iniciada em 2010, descambou para situação de crise em 2011, caracterizada por perda de colheitas, preços exorbitantes de comida e subnutrição generalizada. Exacerbad por instabilidade política crônica e socorro humanitário retardado, o número de mortes pode ter superado 50 mil.

Na América do Norte, uma seca que começou no final de 2010 e se agravou em 2011 levou centenas de agricultores do norte do México a marchar até a capital do país, em janeiro de 2012, tentando chamar atenção do governo para seu drama. Quase 900 mil hectares de colheitas e 1,7 milhão de cabeças de gagos foram perdidas devido ao fenômeno – o pior desde que os dados passaram a ser registrados, há 70 anos.

Temperaturas abrasadoras, secas e incêndios florestais atingiram as planícies do sul e sudoeste dos Estados Unidos, provocando prejuízos superiores a 10 bilhões de dólares em 2011. A cidade de Wichita Falls, no Texas, viveu cem dia com temperaturas acima de 38ºC – muito mais que o recorde anterior (79 dias), em 1980. Oklahoma e o Texas tiveram os verões mais quentes de todos os estados na História, quebrando por larga margem o recorde de 1934, durante a onda de tempestades de areia que ficou conhecida como Dust Bowl. James Hansen, diretor do Instituto Goddard par Estudos Espaciais, da NASA, escreve que a possibilidade de tais ondas de calor “era desprezível antes do recente aquecimento global acelerado”. O Texas também viveu o ano mais seco na história. O calor e a estiagem favoreceram incêndios florestais, que queimaram uma área equivalente a 1,5 milhão de hectares no estado. (…)

Em todo o mundo, sete países viveram recordes históricos de temperatura em 2011: Armênia, China, Irã, Iraque, Kuait, República do Congo e Zâmbia. Curiosamente, o Zâmbia foi também o único país a experimentar um recorde negativo de temperatura no ano, quando os termômetros desceram a 9ºC, em junho. O Kuait viveu a temperatura mais alta do ano, 53,3ºC, o maior calor já registrado em qualquer parte do planeta num mês de agosto. Ainda mais ameaçadores para a saúde que os picos diurnos são as temperaturas mínimas noturnas excepcionalmente altas, que indicam a ocorrência de um calor sem pausas. A temperatura mínima mais alta num único período de 24 horas, em todos os tempos, foi registrada em Oman, em junho de 2011: chegou a 41,7ºC.

Até mesmo na região ártica, 2011 foi um ano de calor notável, com um recorde de 2,2ºC acima da média registrada entre 1951-80. Barrow, no Alaska, a cidade mais próxima do Polo Norte em território norte-americano, viveu mais de 86 dias seguidos na temperatura do derretimento do gelo ou acima dela. O recorde anterior era de 68 dias, em 2009.

Ao longo dos últimos 50 anos, as temperaturas no Ártico subiram mais de duza vezes mais que a média planetária, o que provocou derretimento de gelo e permafrost. O gelo do Oceano Ártico está recuando mais rapidamente, e caiu para o volume mais baixo e segunda área mais baixa de todos os tempos no verão de 2011. Com a perda de gelo no verão bem acima da recuperação invernal, a cobertura do oceano tornou-se mais delgada, tornando-o cada vez mais vulnerável a novos derretimentos. Cientistas preveem um verão ártico completamente sem gelo em 2030, ou mesmo antes.

À medida em que desaparecem o gelo, e sua capacidade de refletir os rais solares, fica exposto o oceano escuro, que absorve a energia solar muito mais rapidamente, o que provoca aquecimento ainda maior da região. Isso desencadeia uma espiral climática, acelerando o derretimento tanto no oceano quanto na vizinha Groenlândia, que tem gelo suficiente para provocar a elevação do nível do mar em 7 metros – caso ele se derreta por completo. O derretimento do permafrost também libera dióxido de carbono e metano, dois gases que contribuem para o aquecimento global.

Mesmo sem que todos estes gatilhos disparem, certos modelos sugerem que o uso continuado de combustíveis fósseis poderá elevar a temperatura em até 7ºC, até o final deste século. Tamanha elevação poderia multiplicar os extremos de temperatura e precipitações, a ponto de gerar tragédias perto das quais parecerão minúsculas as registradas nos últimos anos. Só uma redução dramática da emissão de gases do efeito-estufa poderá manter as temperaturas futuras numa faixa relativamente segura.

fonte: http://outraspalavras.net/posts/a-era-dos-extremos-climaticos-comecou/

2012/09/04

Os custos ocultos do petróleo – Insegurança, rentismo e obsolescência econômica

Filed under: artigos — Tags: , — seringueira @ 15:15

“Um país em desenvolvimento não pode deixar de utilizar seus recursos petroleiros. Especialmente quando existem necessidades insatisfeitas. O petróleo oferece o capital necessário para alcançar as metas do milênio, para acelerar o crecimento econômico. Além do mais, dado que a produção petroleira deixará de ser rentável em poucos anos, deve-se extrair o recurso o mais rápido possível para aproveitar os preços altos”. Enunciados como estes parecem repetir-se incessantemente porque sua verdade parece evidente. Mas, realmente é? Como qualquer atividade a petroleira tem “custos” que não parecem refletir nos indicadores de impacto que monitoram o desempenho de uma indústria extrativa a curto prazo.

Geralmente, esses custos estão relacionados com negócios que governantes e governados não conseguem apreciar com facilidade porque suas manifestações sensíves não são nem imediatas e nem diretas. Nestes custos ocultos, encontra-se “o custo de uma decisão”. De que estamos falando? A manutenção de uma atividade econômica implica reproduzir relações sociais e estruturas organizacionais que apoiam seu desempenho. Por isso, seguir extraindo petróleo é continuar fomentando todas aquelas formas de produção, consumo e vida que emergiram com a civilização petroleira.

À margem disso, a persistência das atividades extrativas implica incrementar os custos econômicos e os prejuízos sociais derivados da reprodução das falhas de mercado associadas à indústria petroleira, uma das quais é a permanência das estruturas e comportamentos monopólicos. Continuar as atividades extrativas favorece aquelas decisões políticas que, para benefício de alguns, capturam recursos públicos que poderiam ser utilizados para fins alternativos, como a promoção da pequena agricultura. A quem importa esse custo? A todos, incluindo a quem parece estar interessado somente em obter lucros a curto prazo. Independentemente de seus desastrosos efeitos ambientais, a manutenção da extração petroleira colocará as nações em uma situação de desvantagem econômica e tecnológica estratégica. E os países desenvolvidos sabem muito bem disso.

Nos últimos cinco anos, os governos e as empresas dos países do G8 têm incrementado notoriamente seus esforços para assegurar sua independência econômica e segurança energética até 2030. Este objetivo aparece refletido recentemente, por exemplo, na Energy Policy Act (2005) e na Advanced Energy Strategy (2006). De fato, a tarefa de aumentar a segurança energética de um país implica substituir o consumo de petróleo pelo consumo de outras formas de energia. A transição até um “capitalismo pós-carbono” não implica somente no uso de novos combustíveis.

Na realidade, a construção de sociedades “de baixo consumo de petróleo” pressupõe desmontar todos os clusters de atividades públicas e privadas que dependem de, ou estão relacionadas com, a extração do petróleo. Evidentemente, a “descarbonização” da civilização capitalista implicará em tomar decisões que gerarão conflitos com aqueles agentes econômicos que não podem adaptar-se com facilidade e rapidez às novas condições. E, obviamente, o conflito não parece ser um negócio rentável para os políticos. Apesar disso, os governantes e os empresários dos países mais desenvolvidos já estão tomando medidas a respeito porque a ameaça da inação é ainda pior: a obsolescência tecnológica e o estancamento econômico.

Durante o século XXI, os países, as empresas e as famílias que insistirem em viver do petróleo estarão expostos à uma maior vulnerabilidade. Devido as características físicas do petróleo pesado, a extração deixará de ser economicamente rentável. Depois do “pico do petróleo”, certamente a extração poderá continuar, mas como uma atividade cuja realização implicará em custos maiores do que os benefícios econômicos. Todos os países, incluso aqueles financeiramente mais “poderosos”, estão sujeitos à restrição. Por isso, o dinheiro não basta para satisfazer todas as necessidades, menos ainda aquelas das indústrias em decadência. Em um período de duas décadas, a produção petroleira apenas poderá prosseguir se a sociedade decide manter e aumentar os subsídios à esta atividade. E, se esta opção não é economicamente racional nem mesmo nos países desenvolvidos, haverá sentido em países com inúmeras necessidades básicas?

Desde o setor privado, a visão não é muito diferente. Do ponto de vista das empresas, a demanda de petróleo e seus derivados terá uma tendência cada vez mais decrescente, incluso se um país decide prosseguir com seu apego ao combustível negro. Para o empresário, então, haverá sentido especializar-se na oferta de bens e serviços que cada vez serão mais substituíveis? Poderá dizer que estas tendências da demanda serão óbvias e notórias em 2020. Por acaso esse horizonte temporal está muito distante?

Nos países não desenvolvidos, devido aos custos e subsídios nos quais as empresas e os governos terão que custear, a atividade petroleira não gerará ingressos suficientes nem sequer para seguir a “regra de Hartwick”, ou seja, a inversão dos lucros do petróleo em outros ativos não petroleiros será insuficiente para manter o crecimento econômico a longo prazo. E tudo isto sem contar o “ saldo líquido energético”!

Por outra parte, todos os países entrarão em uma corrida para desafazer o “custo de ajuste energético”. Em um mundo onde a globalização perpetua as assimetrias entre as nações, o país que modifique rapidamente suas estruturas e processos econômico-ambientais, terão maiores possibilidades de passar os seus prejuízos a outros países. Por isso, ainda que os Estados Unidos continue dependendo dos combustíveis fosséis até o ano de 2030, o negócio geopolítico deste país tem duas arestas: por um lado, efetuar paulatinamente uma transição até outras formas de energia, e por outro, manter os produtores de petróleo do terceiro mundo dedicados ao velho negócio de sempre – fornecer petróleo e matérias-primas aos países desenvolvidos.

No caso dos países não desenvolvidos, o apego à exploração petroleira provoca um prejuízo adicional: o deterioramente das condições e capacidade de política pública. Do que se trata? Há décadas, como parte dos discursos para manter a esperança dos países exportadores de petróleo, os governantes e as empresas transnacionais tem sustentado que o óleo constituirá um mecanismo para elevar o nível de vida da população. Isto não sucedeu. Como pode-se evidenciar no Equador, as elites têm desfrutado da “festa do petróleo” sem gerar uma maior redistribuição da riqueza social. Apesar das declarações governamentais, esta tem sido a norma desde 1970. Isto mudará substancialmente no futuro?

A “maldição dos recursos naturais” tem origem em uma expressão que resume a utilização dos ingressos petroleiros para financiar gastos economicamente improdutivos. O desperdiçio fiscal é, sem dúvida, a ponta do iceberg. Sejam quais forem os desperdiçios fiscais, nos países não desenvolvidos e com democracias precárias, a extração petroleira tem contribuido substancialmente para a dissolução do público. Graças ao petróleo, as elites empresariais e as corporações transnacionais têm assegurado seu controle sobre o Estado para garantir a apropriação da riqueza coletiva. Nestes esforços, aqueles grupos de interesse têm convertido o Estado em um administrador que reparte assimetricamente as vantagens obtidas por um recurso natural. Por isso o “ouro negro” tem obscurecido o bem estar dos mais pobres.

Neste sentido, a obstinação para extrair o petróleo implicará em preservar todos aqueles fatores político-econômico que, nos países menos desenvolvidos têm contribuido para a fragilidade de nossos Estados, ao desmantelamento da democracia e a consolidação da desigualdade intrageracional e intergeracional.

No século XXI, a humanidade estará enfrentando uma transformação sem precedentes históricos: mudar as formas de organização social e econômica baseadas no uso intesivo de energia gerada pelos fósseis. A “riqueza das nações” dependerá da forma pela qual se efetue essa transição. Desde o ponto de vista das políticas públicas, a transição até sociedades pós-petróleo presupõe a criação de processos para sacar da jogada os grupos de pressão doméstica e transnacionais, públicos e privados que estariam interessados em manter o status quo energético.

Similarmente ao que aconteceu com as políticas econômicas anticíclicas durante a época do ajuste estrutural, os países desenvolvidos pareciam estar pouco interessados em que os países não desenvolvidos adotassem como norma de conduta a previsão e planificação à largo prazo. “O que é bom para o Norte, não é bom para o Sul”. Essa poderia ser a frase que resume essa atitude.

Sendo assim, enquanto os países mais industrializados delineiam suas estratégias para manterem-se na crista da “nova onda da globalização”, os países não desenvolvidos seguem recebendo recomendações para manterem-se atados ao velho capitalismo carbônico… e, quando o fazem, as instituições financeiras aplaudem “a boa prática”.

Os sistemas energéticos são sempre e sobre tudo sistemas sócio-tecnológicos. Por isso, as transições são processos lentos de transformação das relações sociais. Quanto mais demora-se em efetuar uma transição, maior será a “brecha energética” entre os países pobres e os países desenvolvidos. Insistir na exploração petroleira é o primeiro passo até um caminho de efeitos pervesos para nossos países. A inseguridade energética é apenas um deles. Se não alteram-se os processos de decisão e as estratégias de crescimento baseadas no uso de petróleo, o Equador permanecerá preso em um reduzido “espaço de política” que favorecerá a reprodução de “economias intensivas em energia” e ineficientes no uso energético. As consequências ambientais desta armadilha são óbvias: uma maior depredação ambiental. Mas as consequências sociais, podem ser imaginadas?

Para toda essa irracionalidade, sim existem alternativas. Apesar de não ser a melhor opção imaginável desde uma perspectiva ecológica, a constituição de um “fundo petroleiro” poderia ser uma saída ante a intransigência e indolência das elites.

Nas últimas décadas, na Noruega, Canadá, Alaska, Azerbaizão, Cazaquistão, Timor Leste, Chad, São Tomé e Príncipe ou Papua, Nova Guiné, têm-se implentado desenhos institucionais para evitar que os ingressos petroleiros sejam desenvolvidos segundo as conveniências políticas conjunturais de quem detém o poder. Se trata dos “fundos de recursos naturais”, mecanismos de arrocho forçado que, para evitar o consumo atual de um patrimônio coletivo, permitem aos governos utilizar os ingressos petroleiros somente em determinadas circunstâncias, ou seja, um desajuste severo da balança de pagamentos, uma recessão econômica prolongada ou uma crise bancária.

Nos países não desenvolvidos, a magnitude da miséria poderia converter o arrocho intergeracional em uma opção insensível aos padecimentos das atuais gerações. Por isso, aquele mecanismo poderia ser modificado em um sentido favorável às maiorias, a saber, “trocando petróleo por vida”.
Assim, e em caso de que não existam as correlações forças necessárias para optar pela suspenção da extração petroleira, deveria-se impulsar um grande acordo social para utilizar as últimas gotas do custoso recurso para o financiamento dos serviços públicos de saúde e educação.

Desta maneira, além de começar a delinear a transição até uma sociedade pós-carbono, além de evitar o aproveitamento privado do patrimônio nacional, os últimos anos da produção petroleira poderiam converter-se nos primeiros anos de uma silenciosa mas poderosa construção: o incremento do bem estar e as capacidades da população. Com uma população sana e educada, capaz de converter-se em gestora de seu próprio destino, os países não desenvolvidos criarão as condições fundamentais para compensar as futuras gerações por sua atual dependência do petróleo.

Juan Fernando Teran, Universidade Andina Simón Bolivar.

2012/09/03

Os impactos invisíveis

Filed under: artigos — Tags: , — seringueira @ 23:09

Para ninguém hoje é um segredo a mudança climática. Quando as águas invadem e levam os carros do primeiro mundo, quando a seca assola a África, quando o Katrina arrasa Nova Orleans e os glaciares desaparecem, reconhece-se que o consumo dos combustíveis fósseis tem impactos…

Mas quem fala dos impactos de sua produção? Quem fala do pacto de silêncio contra centenas e milhares de comunidades em toda parte do mundo aonde a extração do óleo cru está associada às mais graves violações dos direitos humanos? A mudança climática é evidência, mas falta ainda ver a parte escondida deste iceberg que ninguém ajuda a olhar.

As empresas petroleiras no Equador recebem latifúndios de 200 000 hectares na Amazônia para extrair o óleo cru do subsolo, na verdade as empresas se apoderanm deles e de sua superfície. A entrada em territórios indígenas a expoliar seus recursos tem sido uma constante na história da indústria petroleira neste país.

As quadrilhas de trabalhadores que realizavam a sísmica no solo deflorestaram enormes hectares de terras, aonde a linha reta se enfrentava com a sinuosidade dos rios, a textura vegetal ou a limpeza do som. As quadrilhas detonadoras romperam o silêncio, meteram o medo nos animais que passavam e mudaram os ensinamentos do ayahuasca pela maldade do trago. As comunidades indígenas, esquecidas pelos estados, foram confrontadas pelas petroleiras em rituais de violência que a história tem escondido. Dezenas de mulheres indígenas foram violadas, por quadrilhas de 5, de 10 ou de 50. Sem escrúpulos e sem castigo, depois de golpear aos maridos e intoxicá-los com álcool, os petroleiros enfrentaram à sua maneira o novo ‘encontro’ de culturas.

Ao estilo da neocolonização abriram-se os caminhos ao anunciado progresso que alçou o petróleo aos altares da pátria nas academias militares e que foi justificado em nome de toda a nação, enquanto nos quadriculados neolatifúndios os tratores arrancavam 80% da vegetação para que a fronteira agrícola assentasse campesinos e expulsasse culturas milenárias, enquanto espremia a força de trabalho de quem não tinha nada mais que perder do que a vida que tampouco apreciava-se muito. Os caminhos abertos seguem sendo controlados pelas empresas com suas forças armadas para-militares (ex-militares quase sempre) que controlam espaços, trânsitos, identidades e intenções, que obrigam a consumir a morte que flutua nos rios, que rompem as cercas campesinas quando a técnica diz aonde se deve perfurar e que reduz a nada a sacrosanta base da civilização ocidental, a propriedade, que quando não pertence à uma corporação não tem o mesmo direito que sustenta a uma comunidade.

Os poços em perfuração, como o dedo na garganta, vomitam seu asco em piscinas que não se comportam. Milhares de toneladas de dejetos tóxicos, de 3 000-8 000 barris por poço, e com mais de 1 500 poços perfurados foram eliminados em piscinas que não podiam conter seu asco e se rompia até os intocados rios da região. Hoje, a tecnologia de ponta para áreas protegidas promove que sejam enterrados nas mesmas plataformas dos poços, tapados e sem isolá-los com areia e pedras que drenam dos antes espelhosos rios. Urânio, radón, rádio, em quantidades desconhecidas… metais pesados de toxicidade certa, lodos gastados de esquecimento e desprezo, a 50 metros das casas dos campesinos que viven morrendo sem desconfiar do risco. Quando o óleo cru flui sangrante por essas veias de metal, tem que ser filtrado em espessas estações que como fígados limpam de químicos indesejáveis e o resultado são gases asquerosos queimados ao sair e urinas salgadas, quentes e amarelentas, de continência impossível. Gases de metano que desde o início afetam o efeito estufa, azufrosas pestilências que, no ambiente úmido da Amazônia, transformam-se em ácido sulfúrico que, sem permissão também, entram nos pulmões, começam a destruí-los e regam a terra de ácido, para que nada floresça, para marcar territórios ‘como animais’ que com seus afluxos ameaçam e advertem; mas nestes gases o nível de perigo está milhares de vezes por dentro, abaixo, antes de ser apreciado, deixam seu rastro a mais de 25 km, enquanto a população antes cúmplice e hoje desavisada vive a 50 metros.

As urinas putrefatas, carregadas de arsênico e mais salgadas do que o mar morto, vai chegando cada vez mais longe nos rios cada vez mais mortos. Esses mesmos rios, que pouco a pouco acolhem a morte, acabam por acolher também o lamento, porque o protesto campesino acaba sendo negado com a ameaça dos fuzis militares. Não vale o protesto airado, somente a indigna humilhação de seguir tomando essa água, e cozinhando, sabendo que com cada copo a morte também vai se fazendo mais presente, tão presente a 50 metros que em 57% dos casos de câncer detectados estão a esta distância.

Ninguém fala dessas hemorragias desatadas, fruto de ateromatosas veias de metal submetidas à hiperprodução, que revientam ao primeiro “estornudo”, e sim do que se acusa aos campesinos. Ninguém persegue aqueles que por “robarse los tubos”, debaixo dos narizes dos militares, derramando seu sangue. Ninguém fala dos enormes contratos que empresas com nomes e sobrenomes obtêm por limpar os derrames que elas mesmas provocam, mas que acusam ao campesino. Ninguém fala das crianças mortas ao nascer porque seu primeiro hálito esteve carregado da peste do óleo cru derramado. Não, os mortos em nome do desenvolvimento permanecem enterrados sem placas. No Equador as máquinas não pararam quando na construção da hidroelétrica Paute o cimento engulia aos trabalhadores. Em Sucumbíos e Orellana, os mortos do petróleo são sepultados no esquecimento, mas são mais de 500, muitos mais que todos os mortos das últimas guerras no país; quando os mortos caem sempre do mesmo lado, não se chama guerra, se chama genocídio.

Acción Ecológica

Guerras do Século XX

Filed under: artigos — Tags: — seringueira @ 22:18


As guerras do século XX e princípios do XXI têm se alimentado do petróleo e, na maior parte dos casos, o petróleo tem sido a causa do conflito.

Século xx

ÁFRICA

Em Angola—um dos principais produtores de petróleo da África — o controle dos recursos hicrocarboníferos sempre esteve em mãos do Movimento Popular de Liberação de Angola (mpla), hoje no poder. A perpetuação da guerra civil neste país tem estado muito relacionada com a necessidade de controlar o petróleo. Para ele, os Estados Unidos financiam as guerrilhas das unidades que controlam as minas de diamantes e são inimigos do mpla. Os principais objetivos militares das unidades têm sido as áreas produtoras de petróleo (que significam 90% dos recursos do governo). No momento, todas as empresas petroleiras importantes no mundo têm inverstimentos em Angola. A guerra de liberação da Argélia, uma das mais sangrentas da África e que durou quase uma década, tinha como causa subjacente as ricas jazidas de petróleo argelinas que até 1968, quando foram nacionalizadas, eram exploradas por empresas petroleiras francesas.

 

A atual guerra civil no Sudão está tambén manchada de petróleo. Em setembro de 1999, Sudão se converteu no novo exportador de petróleo na África. Outros conflitos na África relacionados com o petróleo incluem a guerra recente no “Cuerno” da África e a disputa sobre as ilhas Bioko na Guiné Equatorial.

 

AMÉRICA LATINA

Sabe-se de pelo menos duas guerras que, na década dos anos 40, estiveram relacionadas com o petróleo: a guerra do Chaco, aonde Paraguai perdeu uma porção do país com importantes jazidas petroleiras e a guerra Equador-Peru. Nos anos 80, a guerra civil que arrasou a Guatemala centrou -se no Ixcan, zona aonde neste momento exploram-se reservas petroleiras, depois de obrigarem a população indígena a deslocar-se. O caso mais recente é o Plano Colômbia, que tem, entre outros objetivos, controlar a produção petroleira nesse país. O Plano Colômbia tem focado na região do Putumayo aonde, mesmo que a produção petroleira não seja muito importante, as novas licitações nos insinuam que as reservas poderiam ser maiores que as conhecidas.

 

O problema na região é a contínua sabotagem que sofre a infraestructura petroleira por parte dos exércitos irregulares existentes neste país, o que significa, para a indústria petroleira, importantes perdas econômicas. Com a chamada Iniciativa Andina, Estados Unidos estaria controlando a produção petroleira dos cinco países andino- amazónicos, todos produtores de petróleo e gás. O conflito de Chiapas não deixa de ter uma ligação direta com a voracidade dos Estados Unidos para que se perfurem os poços petroleiros de Chiapas, que parecem ser de grande riqueza.

 

ÁSIA

A situação não é distinta. Enquanto os Estados Unidos liderava uma guerra contra o povo do Vietnã, a empresa Mobil fazia prospecção offshore no que eles chamavam de Vietnã do Sul. Na década dos anos 90, Mobil ganhou uma licença de exploração dos mesmos campos que esteve três décadas antes, Blue Dragon (a 280 km do Delta do Mekong), mas o abandonou por não encontrar reservas comerciais. A ocupação colonialista da Indonésia no Timor Oriental, apoiada pelos Estados Unidos e Austrália, se deve em parte à presença de importantes reservas hidro-carborníferas no Mar do Timor, assim como a disputa sobre as Ilhas Spratley, pequenas ilhas com reservas petroleiras sobre as quais reclamam direitos China, Vietnã, Filipinas, Indonésia, Malásia e Brunei.

 

EUROPA DO LESTE

Em Grozny, Chechenia, também ocorreu uma outra guerra. Para os Estados Unidos e a Europa existe uma grande importância em romper a hegemonia russa no transporte de óleo cru, por isso o controle sobre a Chechenia é vital. Mesmo que as reservas não sejam tão importantes, esta zona é crucial para o caminho do oleoduto que traz o óleo cru do Mar Cáspio. O caminho do oleoduto pelo território russo permite a este país manter o controle sobre o transporte de energia, sobre seus preços, assim como utilizá-lo como um mecanismo de controle político. Na ex-Iugoslávia igualmente os conflitos relacionam-se com o controle do transporte de óleo cru desde as jazidas no Oriente Médio e o Cáspio até o Mediterrâneo e o Mar Negro. Azerbaiján, Kazakistán, Turkmenistán e Uzbekistán juntos têm 115 mil milhões de barris de reservas provadas de óleo cru e 11 trilhões de m3 de gás. Até agora, a Rússia tem mantido a hegemonia no transporte de óleo pesado na região, a mesma que quer ser arrebatada pelos Estados Unidos. A importância da zona reside em que os Estados Unidos considera que o óleo pesado do Cáspio pode balançar a liderança que têm os países da opep na fixação dos preços do óleo. Este papel teve antes o Mar do Norte, mas suas reservas são muito inferiores às do Cáspio, e Estados Unidos considera que é mais fácil controlar a produção no Cáspio, pela debilidade institucional desses países.

 

ORIENTE MÉDIO

Há mais de 40 000 jazidas petrolíferas conhecidas no mundo, mas somente 40 supergigantes — a dizer, com mais de 5 000 milhões de barris de petróleo— contendo mais da metade das reservas de petróleo do mundo. Destas 40 jazidas supergigantes, 26 localizam-se no Golfo Pérsico. Nisso reside a importância da região para os Estados Unidos, principal consumidor de petróleo.

 

A guerra do Golfo em 1991 serviu aos países ocidentais, especialmente aos Estados Unidos, para desestabilizar a opep e exercer controle sobre os preços do petróleo, e para criar uma nova co-relação de forças a favor dos Estados Unidos na zona, aonde se encontram as reservas petroleiras mais importantes do mundo. Esta guerra por petróleo produziu 1,5 milhões de mortos diretos ao que se somam 5 000 crianças iraquianas a cada mês como produto do embargo imposto ao Iraque. O conflito na Ásia Central (Afeganistão) está relacionado com o controle do transporte dos abundantes recursos petroleiros da região, tanto do Cáspio como do Golfo Pérsico.

 

O cruzamento de oleodutos pelo Afeganistão, para a retirada dos hidrocarbonetos da Ásia Central aos mercados ocidentais, significa uma alternativa mais barata comparada a outras rotas, mas o problema tem sido a presença do Talibã que, mesmo tendo subido ao poder apoiado pela CIA quando liderou uma guerra contra o governo pró-soviético, hoje são inimigos. Acredita-se que o Afeganistão pode ter reservas importantes. Em sua época a URSS calculou que esse país poderia ter reservas de gás natural ao redor de 0.14 “quintillones” de metros cúbicos. A guerra no Iraque, sustentada sobre o argumento de umas armas de destruição massiva que nunca foram encontradas, teve como objetivo o controle e produção dos 112 milhões de reservas petroleiras desse país. Ainda não foram contabilizadas as mortes e os custos da guerra.

 

Elizabeth Bravo, Oilwatch

 

Que fazem as indústrias petroleiras no terreno?

 

1.Financiar massacres, conflitos e guerras inter-étnicas, guerras de baixa intensidade procedentes da exploração petroleira;

2. Expulsar populações de áreas petroleiras (desde expulsões familiares até massivas), com programas de colonização, “re-localização” e “trans-migração” observados pela “banca multaleral”;

3. Afetar a vida das mulheres: com maior carga de trabalho, abusos sexuais, violência;

4. Afetar a vida das crianças: utilizando o trabalho das crianças na descontaminação;

5. Destruir a diversidade cultural;

6. Criar falta de segurança para aqueles que vivem próximos das instalações petroleiras;

7. Destruir a base da sobrevivência e da vida das comunidades, gerando inflação;

8. Expropiar a terra dos campesinos e indígenas;

9. Provocar o empobrecimento, inflação;

10. Criar condições para que diferentes doenças proliferem, de transmissão sexual à tropicais;

11. Gerar racismo ambiental;

12. Provocar extinçaõ de espécies naturais;

13. Alterar e destruir a vida dos rios, dos bosques;

14. Acumular dejetos, alguns dos quais tóxicos;

15. Provocar o aumento de doenças como o câncer e a leucemia em seus lugares de operação;

16. Apropiar-se livremente de outros recursos das concessões: água, madeira, “ripio” e outros recursos;

17. Induzir e provocar o incremento da prostituição e delinquência;

18. Provocar conflitos internos entre as comunidades.

O petróleo e a gênese da civilização capitalista

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Neste artigo gostaríamos de recordar alguns fatos da história do petróleo, para compreender a incidência deste na constituição da civilização capitalista moderna. Se trata de um processo histórico que o colocou no coração da sociedade humana, quando o mesmo converteu-se no núcleo da produção e consumo do século XX, e agora, quando define a encruzilhada histórica do mundo globalizado do século XXI.

Antes da utilização moderna e capitalista do petróleo houveram diversos usos humanos: os gregos durante as guerras médicas criaram uma espécie de lança-chamas para incendiar os barcos dos persas, dando-lhe um uso similar ao que o exército “hitita” havia feito em terra anos antes. Nessa mesma época, no Oriente Médio, os sumidouros de petróleo eram lugares de rituais para diversas populações. Em nosso continente americano, ele esteve presente em muitas culturas; por exemplo no que hoje é o Equador, serviu para a elaboração de vasilhas e para impermeabilizar as canoas na península de Santa helena. Na América do Norte, várias populações indígenas lhes davam um uso medicinal.

Sem dúvida, o petróleo adquiriu um caráter tecnológico central somente com a sociedade urbana moderna, que começou a ter necessidades motrizes e de iluminação muito maiores do que qualquer outra sociedade, as quais ao largo da segunda metade do século XIX o petróleo vai respondendo com eficiência. O motor de combustão, já próprio da revolução industrial, requeria um combustível que fosse barato e ligeiro. O petróleo cumpriu essa necessidade que não era somente da produção na fábrica mas indispensável também para todo o transporte de objetos e pessoas que tecnicamente revolucionava-se com muita intensidade, desde a aparição do trem e logo com os inventos-chave como o automóvel, o avião e “cohetes”.

O uso do petróleo e o desenvolvimento da petroquímica estiveram durante as primeiras três décadas do século xx ligados sobretudo à insdústria automobilística, marinha e aeronáutica. O desenvolvimento da indústria automotriz foi um processo que fundamentalmente pertenceu aos Estados Unidos junto à indústria petroleira. A articulação destes dois ramos da indústria vão esboçando pela primeira vez o que é indentificável como um padrão petroleiro de produção e consumo. É muito importante assinalar que este foi conduzido desde sua origem por capital privado estadunidense, que logo marcará a pauta do avanço desenfreado da civilização capitalista.

O sistema tecnocientífico desta civilização teve uma espécie de segunda revolução industrial impulsionada pelas guerras mundiais, reacomodações geopolíticas desse mesmo sistema. As guerras são as que vão tornando o petróleo o elemento nuclear da civilização que agora é introduzido pouco a pouco em diversos pontos da nova estrutura produtiva.

À época da primeira guerra mundial foi necessário como combustível para um transporte mais rápido com fins bélicos. Como material, começou a adquitir importância com a produção do “negro humo” para a borracha e posteriormente para fazer a borracha sintética que substituiria a borracha natural, proveniente das serigueiras.

Isto iniciou um desenvolvimento tecnológico que se pontencializaria fortemente na segunda metade da década de 1930, quando inicia a segunda grande fase desta história com o descobrimento do plástico de origem petroquímica. A segunda guerra mundial foi a preparação da globalização petroleira. Nela indústrias químicas descobrem, e os exércitos implementam, uma série de produtos como explosivos e armas que requerem petróleo em sua elaboração, mas também materiais como os plásticos e as fibras sintéticas que rapidamente se empregam de modo massivo, como o nylon, o pvc e o polietileno. Se generaliza o uso de tubos, mangueiras, discos, revestimentos para solos, lâminas e construção de aparatos e instalações de caráter sintético por sua resistência à produtos químicos; por outra lado, cada vez mais o plástico vai constituindo-se desde utensílios domésticos e roupa até acessórios militares, como os pára-quedas.

Ao finalizar a Segunda Guerra Mundial chega o momento de reconstruir com petróleo um mundo que havia sido devastado, pois a indústria estadunidense foi menos afetada pela guerra que as européias e a soviética, e conseguiu reciclar sua indústria militar em uma caminhada ao consumo. Assim, os plásticos e o parque automotriz se expandem de maneira vertiginosa pelo mercado mundial e a crescente vida urbana, potencializando sua hegemonia.

O auge econômico dos Estados Unidos logo depois da guerra permitiu que se consolidasse seu domínio do mercado mundial, que estava sustentado materialmente no padrão petroleiro da indústria, e em um modo de vida baseado nela. O uso do automóvel, principal produto consumidor de petróleo, os eletrodomésticos, a roupa de nylon ou os objetos de plástico vão configurando o consumo, que conforma o conteúdo da reprodução social que se realiza com o American way of life. Todo o mundo da riqueza material e ideológica tendeu a seguir o modelo estadunidense, e com isso, colocar o petróleo em um lugar central.

As tecnologias que se desenvolviam começaram a expandir o petróleo para outros ramos de produção, como o da agricultura massiva, cuja revolução verde —em verdade uma reciclagem tecnológica da industria bélica da Segunda Guerra Mundial— colocou o petróleo como sua principal matéria prima, praticamente usado em todos os níveis da nova agro-indústria, desde o combustível das máquinas até os componentes sintéticos dos novos pesticidas e adubos.

A União Soviética, e os países aonde existia uma disputa de controle, nunca conseguiram fazer com que a sua população tivesse um consumo de produtos derivados do petróleo tão massivo como a dos Estados Unidos, mesmo o petróleo também sendo fundamental para suas economias. A hegemonia dos Estados Unidos, e dos países desenvolvidos que depois da guerra imitam a sua indústria petroleira, geram no terceiro mundo um tipo de sociedade, que pouco a pouco clama por maiores benefícios desta riqueza.

Estes países produtores de petróleo na década de 70, agredidos múltiplas vezes, aproveitam do esgotamento petrolífero que ocorre nos Estados Unidos para abastecer o mundo material que haviam criado e reduzem a sua produção de petróleo, e assim, dão um passo para que se agudize uma série de nacionalizações da indústria petroleira que já haviam iniciado décadas atrás mas que iam a um passo mais lento. Já não é a época em que é possível relacionar petróleo e progresso. Nos mesmos países produtores de petróleo a dependênccia deste material para obter lucros trouxe consigo severas crises durante a década de 80 pelo endividamento externo. Assim, a partir dos anos 70 a crise que vive o meio-ambiente por culpa da queima do petróleo já é impossível de ocultar e, sem reparar nisso, a indústria petroleira segue seu avanço global. Neste período tem força a microeletrônica e expande-se o uso dos computadores, cuja tecnologia é inconcebível sem os plásticos. Os objetos do petróleo prosseguem aumentando de modo vertiginoso em uma sociedade cada vez mais petrolizada.

O petróleo torna-se um vício constitutivo da sociedade capitalista, vício que tem causado guerras, crises, aquecimento global e danos à saúde (como o câncer pela adição de ingredientes sintéticos nos alimentos, por exemplo).

Pelos problemas que implica o petróleo, diversas alternativas tecnológicas têm sido tentadas, mas estas não conseguem freiar o poder hegemônico do padrão petroleiro. A dependência que tem a indústria automotriz que prossegue crescendo ano a ano, a exigência de energia para as fábricas do mundo, e o constante desenvolvimento de materiais plásticos prosseguem impondo o petróleo.

Além do que, as energias alternativas estão controladas pelos mesmos petroleiros capitalistas que não têm um interesse real em que estas tornem-se efetivas globalmente, enquanto não se esgotem as reservas petroleiras do planeta. O petróleo, por sua capacidade energética, tem beneficiado os processos produtivos, a quantidade de intercâmbio de força de trabalho e produtos que permitiu enquanto combustível, e o tipo de consumo que se gerou com ele, constituindo o nosso mundo contemporâneo. A ‘civilização material’ do capitalismo, da qual falava Braudel, teve sua continuação desde a segunda metade do século XIX até agora, no desenvolvimento da civilização petroleira. Neste período, foi-se gerando o corpo global da sociedade capitalista, que teve uma gênese no petróleo, sua energia vital —ao converter-se no principal combustível— e logo no século XX constituiu materialmente esse mesmo corpo social —ao converter-se como material sintético em elemento decisivo da produção e consumo da modernidade estadunidense.

A história do petróleo se une à gênesis da civilização humana mais complexa que se tem conhecimento, e que integrou à toda sua urbe a sua lógica, colocando nela seu selo petroleiro. Atualmente, este hidrocarboneto ainda define o metabolismo técnico e geopolítico de nosso corpo social e segue com ele colocando em questão nossa sobrevivência no planeta. Agora se faz evidente a enfermedade crônica do corpo social global por causa de sua dependência ao petróleo, devemos perguntar-nos se queremos que siga a cega dinâmica de nossa sociedade que nos conduziu a esta situação, onde a acumulação privada de capital e seus representantes, os países hegemônicos e as grandes empresas, ditam nosso destino como humanidade.

Omar Bonilla e Pavel Veraza

(conservar o cru no subsolo.pdf / oilwatch, equador)

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